Este blog é um espaço para repensarmos nossa forma de ensinar e aprender no século XXI. Buscamos criar o novo a partir das interações entre os sujeitos conectados e interligados no mesmo desejo de evoluir.
RSS

sexta-feira, 27 de julho de 2012

DIALOGO EM MARAU: Prof. Dr. Raimundo Dinello

DIALOGO EM MARAU: Prof. Dr. Raimundo Dinello

(Nova síntese da pedagogia: educação e saúde social)


“O difícil da educação é formar o professor na mesma velocidade que evolui a sociedade. Construir as escolas é fácil, o complicado é formar o mestre. A dificuldade hoje está além do ensinar, está no educar”, esta é a afirmação do Uruguaio, Raimundo Angel Dinello, primeiro conferencista do III Fórum Internacional de Educação, que teve início na quarta-feira, dia 18 de julho e segue até a sexta-feira, dia 20 de julho, em Marau, Rio Grande do Sul, Brasil. Ele é o criador da Pedagogia da Expressão, metodologia ludocriativa e doutor em ciências psicológicas na Universidade livre de Bruxelas (Bélgica); Projeto estruturas lúdicas na UTU (Uruguai).

Entrevista realizada pelo repórter Luiz Carlos Rodrigues de Lima. Rádio Alvorada AM. Confira a entrevista:
Teve inicio ontem, o III Fórum Internacional de Educação na Casa de Cultura em Marau (Rio Grande do Sul- Brasil) que se prolonga até amanhã. Para nossa satisfação estamos recebendo aqui no estúdio da Radio Alvorada o Professor Doutor Raimundo Angel Dinello, uruguaio, conhecido como o criador da Pedagogia da Expressão. Ele fez a abertura do III Fórum Internacional de Educação com sua palestra: A nova síntese da pedagogia: educação e saúde.


Professor Dinello bom dia.
Bom dia.
Gostaria que nos falasse o que é a Pedagogia da Expressão.

Para nos situar na Pedagogia da Expressão temos que olhar o tempo que estamos vivendo. Não temos dúvida que no século XX acabou a modernidade e iniciamos o século XXI entrando na pós-modernidade, ela que ainda é uma interrogação, mas evidente com o avanço da sociedade na tecnologia, o avanço da difusão do conhecimento, as telecomunicações, as mudanças dos hábitos de vida, que vem transformado a sociedade. No entanto, se a sociedade se transforma, necessitamos transformar os processos da educação.

Porque é a educação que prepara o indivíduo para viver em sociedade e buscar sua felicidade.
O senhor diria que estamos vivendo uma pós-modernidade indefinida?

Ao todo, ao menos complexa. Não só indefinida, certamente é mais complexa que a modernidade. Tem mais elementos produtos das inteligências que se entrecruzam.

E a que o senhor atribui essa complexidade?

Primeiro, chegam vários problemas juntos. Segundo, provoca uma evolução da pessoa humana e as modalidades de consumo hoje estão propondo mais individuo e menos família, e ainda menos comunidade. Mas o forte da cultura está na comunidade. Então o problema é que o consumo solicita ao individuo, mas o forte do ser humano é sua integração na comunidade. Então se criam diferenças que constituem a complexidade. Constitui-se complexo porque quando chega um problema, não chega um, chegam vários simultaneamente. O problema do emprego, o problema dos horários, o problema do casal, o problema da afetividade, dos vínculos. Os problemas do futuro estão chegando juntos com o presente. A velocidade de fatos cria uma complexidade de vários problemas para resolver.

Em outras palavras, o senhor diria que esta complexidade tem como causa o consumismo?

Não é somente como causa. O consumismo já é um sinal, já é um produto. A evolução da pessoa e do uso do planeta que faz a espécie humana fez de certa maneira, com que devemos repensar como estamos vivendo esse desenfreio do individuo que consome e cria conflito na convivência com o ecossistema da vida.

Na sua visão como deveríamos pensar esta realidade?

O primeiro assunto é reorganizar o pensamento da educação, porque a educação é quem prepara uma geração para continuar a viver. E também a educação organiza como você está passando da infância para jovem e do jovem para adulto que produz e consome. Portanto a educação é o sistema que regula o processo de hominização. Então é aí que se torna um especial interesse.

A educação deveria ser aprimorada e alem disso, existe uma falta de professores, mestres, de educadores na atualidade?

Sim, é uma realidade porque muitos ficaram atrasados e a sociedade faz uma evolução mais rápida que a formação do professor. Os Estados pensaram mais na economia que na atualização do ensino e da educação, não perceberam o processo; mudou o paradigma: do “ensino – processo aprendizagem” passou ao “aprender a aprender”. Aprender criativamente por toda a vida.


A educação não depende só dos mestres, mas o que se vive em família?

Os dois sistemas estão conjugados, o problema é que além destes dois, existem o sistema econômico e o sistema político. Quem decide geralmente é a política, mas muito induzidos pelo produto econômico. Hoje por exemplo, a economia coloca que os pais e famílias têm que trabalhar. E se perguntam onde colocamos as crianças para serem educadas. Mas, por outro lado estamos dizendo a família é o berço da educação. No entanto, o pai tem que ir ao trabalho, a mãe também e onde fica a criança? Então, percebe-se que não existe um tempo do encontro. O problema é que simultaneamente a evolução do produto comercial e a evolução do consumo da escolaridade por vezes não vão pelo mesmo caminho, não se encontram nas finalidades.

Significa dizer que hoje, os alunos dos colégios, num sentido geral, estão bem informados, mas não bem educados?

Falemos de outra maneira. Primeiro temos o problema que o mundo está atravessando em duas velocidades. Aqueles que vão pela educação privada, pagando pela educação para obter o melhor resultado e aqueles que não têm condições econômicas e vão pela escola pública com menor resultado. O outro problema é que individualmente ou na célula família tem-se que resolver como se sobrevive hoje e aí está dependendo do sistema econômico. E muitas vezes o sistema econômico não respeita sua situação “em vias de educação”. Quantas pessoas há que sem terminar sua formação de educação, tem que começar a trabalhar? E há pessoas que tem um meio familiar com instrução e assim podem aproveitar melhor da educação e enquanto outros que não têm necessitam buscar os meios para conseguir manter o ritmo. Quer dizer que a desigualdade econômica e as desigualdades culturais se transformam num problema para assumir o sistema educativo.
O sistema educativo não está resolvendo o problema da equidade. Mesmo que o estado assuma a preocupação do sistema geral, não está conseguindo focalizar a equidade, porque não está trabalhando este problema ao nível da metodologia do ensino e da educação. Não está dando aos professores os instrumentos para resolver as desigualdades e buscar se aproximar a especificidade de hoje na formação da criança.


O ensino privado tem-se conceituado como de melhor qualidade que o ensino público, mas o senhor que tem conhecimento do ensino em toda a America Latina, o governo está deixando a desejar no ensino público?

Não podemos dizer certamente que seja o governo. Acontece que o governo está sendo surpreendido porque é mais fácil construir prédios, e buscar recursos para fazer pontes e rodovias, que para incrementar a educação. O difícil da educação é formar o professor na mesma velocidade da atualização que está evoluindo a sociedade.

O senhor diria então que construir o prédio da escola é fácil?
Isso é fácil e dá publicidade.

Difícil é ter o mestre?

Exatamente. Porque ser o mestre hoje supõe uma qualidade de inteligência em função de formar a pessoa e conjugar com uma visão que ele tem de futuro e da sociedade.
Há que se deve essa carência de professores e docentes?
Acontece que até agora foi aceito que os professores fossem “aqueles que ensinam” e hoje tem que ser sobretudo educadores. A diferença está que os professores que transmitem o conhecimento que já existe nos livros são de certa forma repetidores dos conteúdos. Mas, educador é aquela presença e aquelas propostas dos valores humanos de convivência alem dos conhecimentos. Aí todos estão sujeitos a conviver e a aceitar valores. Por isso que é mais difícil. É fácil ser docente, mas não é tão fácil ser educador.

Tem pais que levam os filhos na escola e pensam que lá vão receber informação e educação. Mas a educação começa em casa, na família?

Hoje a sociedade está fazendo um discurso que é melhor educar na instituição do que na casa. Porque na casa o pai está no trabalho e a mãe também. As vezes os dois estão muito tempo fora. Já em casa, a família sozinha não assegura isso e não podemos dizer que é um problema dos pais. É um problema estrutural de sociedade este desagregamento e a falta de valorizar a comunidade. Portanto todo o esforço para que a comunidade possa crescer em cultura é o caminho que está melhor assegurando a educação.

Professor Raimundo, com o evento da informática se multiplica numa velocidade fantástica o conhecimento. Até que ponto a informação, as redes sociais interferem nestas situações que estamos falando?

O problema da rede social é um e aquele da informática é outro. A informação é um instrumento que permite a difusão do conhecimento, mas necessita o juízo, necessita o pensar para aproveitar dela. Portanto é a cultura do consumidor que decide a qualidade de informação.

Existe muita coisa boa nas redes sociais, mas também muito lixo. O importante é saber escolher?

Por isso que o assunto informática é um assunto tecnológico e o assunto das redes é a utilização da informática para uso do consumo recreativo ou outro. Pode ser por vezes de uso de ensino. O problema é que a maior parte do tempo na rede é usada de forma recreativa. A sociedade vista globalmente está indo no censo do hedonismo, mais para o prazer que para a criação cultural; a tal ponto que muita gente hoje para ver a realidade da educação ou da cultura na evolução da arte vai ao museu, mas a maioria não vai ao museu, a maioria vai à recreação oferecida pela praia, vai ao futebol, vai ao parque, vai ao campo passear ou freqüenta os diversos eventos. Quer dizer que hoje a sociedade possibilita uma amplidão das atividades de dispersão.

Sim, estamos em outras palavras nos saturando de informações. Mas, estamos tendo dificuldade de fazer uma seleção daquilo que temos?

É que a pessoa não está sendo formada para escolher. As opções que temos são grandes. Mas qual é a qualidade de cada um para fazer a opção do que necessita? É aí um ponto álgido do problema. Primeiro porque a escola ficou transmitindo conteúdo do passado e não esteve dando assento à criatividade de quem aprende. O grande primeiro problema é que a escolaridade hoje está sendo baseada na transmissão do passado e não está sendo compreendida como formação dos valores para saber optar pelo projeto de vida. Uma opção de qualidade tem que juntar conhecimentos, valores e princípios estéticos.

O professor está necessitando de uma reciclagem urgente?

Sim. O professor tem que se situar no fato que hoje ele não é um transmissor de conteúdo porque já está aí à internet, o livro, o rádio. Ele é hoje quem descobre e entusiasma, ele é quem dá instrumentos ao aluno para aprender. Ele tem que orientar o desejo de aprendizagem. O professor tem que de certa maneira abrir horizontes para que o aluno ou os jovens compreendam que o futuro está justamente na compreensão do conhecimento.

E com o seu conhecimento, como criador da Pedagogia da Expressão, como se pode colocar estes conhecimentos em prática?

Primeiro vamos responder que estamos num momento oportuno em que precisamos compreender porque temos de sair da crise. Temos que sair de uma Pedagogia baseada na transmissão de conteúdos e entrar em uma Pedagogia que faz principalmente a atenção da pessoa que está estudando, ao protagonismo de quem está aprendendo. Focar naquele que está num processo de assumir identidade, porque mudou a moral do século. Já não estamos em uma escola que recebe alguns e outros ficam fora. Estamos num
período em que todos têm o direito a educação. Se todos têm direito a educação, temos que assegurar que todos possam aprender. E não podemos aceitar que muitas crianças, que pessoas fiquem fora. Não se pode aceitar a repetência. E não se pode aceitar que uma maioria dos jovens não quer seguir estudando. Portanto para modificar isto temos que focar no processo de aprendizagem e não na maneira de transmitir o conteúdo. A apresentação do conteúdo só se justifica depois que estiver assegurado o processo de aprendizagem de cada pessoa. E aí vem a Pedagogia da Expressão. Porque é a expressão que dá seu lugar ao sujeito que aprende; é a expressão que permite existir ao longo da escolaridade.

O aluno teria que aprender a aprender?

Este é o novo paradigma. Aprender a aprender que tirou fora aquele outro paradigma de ensino-aprendizagem. Duas vezes aprender, é outra qualidade.

Este caminho começa a ser seguido pelos professores mestres da atualidade?

Todavia não está muito entendido. Porque lamentavelmente é mais fácil continuar na rotina do passado do que viver o presente. Nós temos que descobrir que educamos para o futuro, enquanto que este sistema anterior está ensinando para reconhecer o conhecimento do passado. O passado já está na internet, está na memória da máquina, está no livro. O que precisamos é dar qualidade para descobrir o futuro, para viver melhor. Portanto o processo de aprendizagem do sujeito é mais importante que o conteúdo, mas isso não quer dizer tirar fora o conteúdo. Quer dizer que se você der qualidade de aprendizagem ao sujeito ele aprende muito mais, tudo o que necessita, mas se você só transmite conteúdo só consegue aborrecer.

Então tem que tornar o ambiente escolar atrativo e ver a realidade do aluno num todo para que ele possa aprender como o senhor disse, a aprender?

O atrativo deveria ser compreendido como a dignidade do ser humano: a aprendizagem. Se você não aprende, não será um ser humano aceito.

Professor Dinello, quem estiver interessado na Pedagogia da Expressão, como pode conseguir seus livros?
Temos uma dúzia de livros publicados. Estamos hoje relacionando a realidade sociológica da sociedade com o processo de aprendizagem. Este é o nosso foco de trabalho. Hoje temos que encarar o sistema de aprendizagem sabendo que o resultado do futuro depende dessa aprendizagem. Buscando que ninguém fique fora, buscando aprimorar a todos na sua participação. Este é o grande desafio aprimorar todas as pessoas, e, portanto devemos ter um projeto de futuro criativo onde cada um tem seu lugar. Meus livros podem ser conseguidos pela internet.

Raimundo Dinello