Este blog é um espaço para repensarmos nossa forma de ensinar e aprender no século XXI. Buscamos criar o novo a partir das interações entre os sujeitos conectados e interligados no mesmo desejo de evoluir.
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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Resenha sobre Homo Ludens - entendendo o jogo

TEMPOS LÚDICOS, TEMPOS FESTIVOS, TEMPOS COTIDIANOS

O intuito desta discussão é mostrar a contemporaneidade do jogo (em destaque o futebol) na prática, ritualização e sacratização, associado a outros eventos cotidianos.


1 .Resenha: HUIZINGA, Johan . Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura – Cap 1 Natureza e Significado do Jogo como Fenômeno Cultur al, Ed Perspectiva, SP, 2000, pg 1-30 (texto abaixo em verde)


RESENHA:



- mesmo em suas formas mais simples, o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico, ultrapassando limites biológicos e físicos.



- O simples fato de o jogo encerrar um sentido implica a presença de um elemento não material em sua própria essência.



- Algumas definições da função biológica do jogo: (a) descarga de energia vital superabundante, (b) instinto de imitação, (c) necessidade de distensão.



- Apesar dessas relações biológicas, a intensidade do jogo e seu poder de fascinação não podem ser exemplificados por análises biológicas.



- Se brincamos ou jogamos, e temos consciência disso, é porque somos mais do que simples seres racionais, pois o jogo é irracional.



- Encontramos o jogo na cultura, como um elemento dado existente antes da própria cultura, acompanhando-a e marcando-a desde as mais distantes origens até a civilização atual.



- no mito e no culto originam as grandes forças instintivas da vida civilizada: o direito e a ordem, o comércio e o lucro, a indústria e a arte, a poesia, a sabedoria e a ciência. Todas elas têm suas raízes no solo primeiro do jogo, pois tudo é jogo.



- há seriedade e não seriedade no jogo, e rir ou não rir está separado do jogo. O futebol é jogado com seriedade, mas não se ri a todo instante. O ato de rir é exclusivo dos homens, ao passo que a função significante do jogo é comum aos homens e animais. Ainda, temos o cômico, ligado à loucura, mesmo não existindo loucura no jogo.



- o jogo é função da vida, mas não é possível de definição exata em termos lógicos, biológicos ou estéticos. O jogo não é vida corrente nem real, é uma evasão para uma esfera temporária de atividade com orientação própria, e que dá satisfação a todo o tipo de ideais comunitários.



- as regras de todos os jogos são absolutas e não permitem discussão (acréscimo de Rafael Porcari -> no futebol, há um certo relativismo na interpretação das regras, como a intencionalidade / imprudência / casualidade das jogadas).



- o culto é a forma mais alta e mais sagrada da seriedade. E, apesar disso, é um jogo. Estamos habituados a considerar o jogo e a seriedade como antítese, o que não é correto.



- Podemos situar-nos, no jogo, abaixo do nível da seriedade, como faz a criança; mas podemos também situar-nos acima desse nível, quando atingimos as regiões do belo e do sagrado.



- Tanto o feiticeiro como o enfeitiçado são ao mesmo tempo conscientes e iludidos. No jogo, um deles escolhe o papel do iludido.



- Por fim, a noção de jogo associa-se naturalmente à do sagrado. Decidindo considerar toda a esfera da chamada cultura primitiva como um domínio lúdico, abrimos caminho para uma compreensão mais direta e mais geral de sua natureza, de maneira mais eficaz do que se recorrêssemos a uma meticulosa análise psicológica ou sociológica.





AULA EXPOSITIVA do Prof Dr Flávio de Campos sobre o Trabalho de Johan Huizinga



Huizinga, que escreveu em 1938, sacraliza o esporte. Interessante comparar com Norbert Elias, que escreve sobre o mesmo assunto, em alemão, num mesmo período de barbárie. A explicação da barbárie na civilização pelos jogos e guerras (Huizinga) e pelo processo de civilidade (Elias) se faz pelo caminho menos fácil de explicação.



Reflexão: o que é jogo, o que é o jogo em si mesmo, e o que ele significa para os jogadores?



O jogo é uma totalidade cujo sentido é o divertimento. O “jogo” é um termo extremamente amplo, genérico. Costumamos enquadrar tudo como jogo. Os jogos são diversos, baseados num “parentesco”; ou melhor, semelhanças de uma espécie de clã.



Huizinga oscila nas definições de jogo, contradizendo-se em muitos instantes; ora é instintivo, ora não instintivo. Ele destaca o brincar do jogo, não a competição. O jogo, ainda, está no lugar entre a natureza e cultura humana, beirando o rito. Por fim, ele não estrutura o jogo no seio da sociedade, mas mostra a função social do jogo.



O jogo, segundo o próprio Huizinga, é uma categoria primária da vida, supralógico, contendo espírito e instinto humano.



“A criança brinca porque gosta. O adulto brinca porque quer, sempre voluntariamente, com liberdade. O jogo é superficialidade, divertimento (e é um microcosmo)”.



Significações: Alemanha X Inglaterra tem significação diferente em 1938, e num outro cenário, 1966, outro sentido (vários cenários históricos proporcionam vários significados).



O jogo é uma evasão da realidade, num determinado período de tempo (transcurso lúdico) e em espaços reservados.



Cada modalidade lúdica tem o seu objetivo específico (colocar a bola no gol, no cesto, bater bola na parede).



O inimigo do competidor não é o trapaceiro, é o estraga-prazer. Não é, para o inglês, o gol de Diego Maradona (com a mão, para Argentina) que o faz detestar do jogo, mas aquele que afirma “é só um jogo”. O adversário do jogo são as pessoas que quebram o mundo irreal e resgatam os envolvidos para a realidade.


Segundo Huizinga, existe o impulso lúdico sobre 3 aspectos: linguagem, mito e rito.

Qualquer formação social é composta por muitos tempos. Também os jogos se constituem de muitos tempos (no contexto social, são os tempos fora do controle, fora da vontade humana, como dia/noite). Nos jogos, o tempo celebrado é a evasão do tempo real (ex: esquecer do trabalho).



Finalizando, em Huizinga não temos o jogo como instinto biológico, nem desejo de competir (isso seria reduzir o jogo à biopsicologia, e ele não admite interferência de outras ciências neste fenômeno cultural). Também nega o controle adquirido pelo jogo, defendido por Elias. Além do que, a questão do significado do jogo para os jogadores é composto por muitas variáveis do que as citadas, pis devemos pensar o jogo dentro de suas relações sociais.

Fonte: http://www.professorrafaelporcari.hpgvip.com.br/503temposludicos.html